O Novo Ruído Digital: Do Workslop à Morte da Busca
- Comunicação

- 6 de out.
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de nov.

A Harvard Business Review trouxe um alerta importante: o uso indiscriminado de IA está gerando um fenômeno chamado “workslop” — uma avalanche de conteúdos superficiais que não aumentam produtividade, apenas poluem processos e consomem tempo nas empres.
Essa leitura conversa muito com o que observo em meus workshops sobre IA e produtividade. Ali, costumo reforçar um ponto central: o maior erro é aceitar automaticamente os resultados da IA, sem crítica ou revisão. Mais do que escrever um bom prompt, o verdadeiro diferencial está na capacidade de avaliar o que foi produzido e solicitar ajustes adequados. Esse processo, que praticamos nos encontros, é o que de fato gera qualidade, consistência e ganho real de tempo. "Feedback" se torna tão importante quando o próprio "Input", que acontece por meio dos prompts.
O problema é que, ao buscar automação total, muitas empresas acabam reforçando a superficialidade. Mesmo os agentes de IA mais sofisticados ainda não entregam o que prometem. Muitas vezes, dois ou três prompts bem trabalhados são mais eficazes que longas cadeias de tarefas automatizadas. Brinco que às vezes parece funcionário querendo mostrar serviço, mostrando um monte de pesquisas sendo realizadas, ao invés de simplesmente entregar mais rápido o que precisa, já percebeu isso?
A reportagem reforça aquilo que sempre destaco nos workshops: a IA só potencializa aquilo que já temos de melhor como profissionais. Quanto mais habilidades, conhecimento e senso crítico trazemos, mais valor conseguimos extrair da tecnologia. Sem isso, sobra apenas a superficialidade que o agora chamado “workslop” escancara.
A internet já foi um território selvagem, um oceano de descobertas, uma vitrine para o mundo. Mas quem ainda pensa nela assim está parado no tempo. O que morreu não foi a internet em si. Foi o uso que "fazíamos" dela. A forma como ela servia aos negócios, ao consumo, à atenção das pessoas. Isso já está sendo enterrado. E quase ninguém está preparado para o que já está vindo em seu lugar.
Até o próprio Google, que lucrou por décadas organizando esse caos, reconheceu publicamente que o modelo tradicional está ruindo. Aquele ciclo de produzir conteúdo, ranquear, receber cliques e tentar converter se tornou obsoleto. As pessoas não querem mais navegar. Não querem comparar. Não querem peneirar.
Elas querem a resposta final. O caminho mais curto entre a dúvida e a ação.
E é isso que a inteligência artificial está entregando. Textos, imagens, vídeos, produtos, serviços — tudo organizado e servido de forma objetiva, prática, direta.
Sem cliques, sem abas, sem busca.
A internet, que já foi uma grande vitrine, caminha para ser apenas um repositório. Um banco de dados frio e funcional, abastecendo mecanismos que sabem o que mostrar, como mostrar, quando mostrar. E tudo isso sem depender da vontade do usuário de pesquisar. A IA não só automatizou respostas. Ela matou o garimpo.
Quem ainda aposta em UX complexo, conteúdo profundo ou estratégias baseadas em tráfego está construindo sobre areia. Porque o que importa agora não é mais a jornada. É o destino. E quem entrega o destino de forma mais direta é quem vai sobreviver.
A pergunta que fica não é se seu negócio está presente na internet. Isso todo mundo está. A pergunta é: seu negócio continua esperando ser encontrado? Ou já aprendeu a se apresentar como resposta?
Se a função da tecnologia é acelerar processos, a IA deu um fim ao processo da busca. E os negócios que não entenderem isso vão continuar investindo em placas de trânsito num mundo que já viaja de teletransporte.
E se te fez pensar, faça acontecer.

Caio Camargo | @caiocmgo
VP de Varejo da Fundação Brasileira de Marketing
Especialista em varejo e consumo
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